Consultora financeira explica sobre a nova liberação de empréstimo para quem é beneficiário do BPC
Clube confirmou interesse em contratar goleiro condenado a mais de 20 anos por matar a ex-namorada
A militante feminista Lélica Pereira de Lacerda avalia que uma eventual contratação do goleiro Bruno Fernandes – condenado pelo assassinato de Eliza Samudio – pelo Clube Esportivo Operário Várzea-Grandense, é um recado de que “o feminicídio tem respaldo em Mato Grosso”.
Entre janeiro e dezembro de 2019, Mato Grosso registrou 42 casos de feminicídio, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).
“Essa contratação é uma violência simbólica e um aviso para as mulheres de que a violência contra a mulher é tolerada”, disse Lélica, que é professora de Serviço Social da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Para Lélica, que atua na Frente Única Mulheres na Luta, a mensagem que o Operário passa para as mato-grossenses é de que elas podem ser mortas brutalmente e isso não será visto como um problema.
“Eu entendo isso como uma violência simbólica. Mato Grosso é um lugar que é uma carnificina contra as mulheres. […] Acho que isso de alguma maneira encoraja esses homens, é um recado. Você pode ser preso, mas saindo você terá um respaldo”, disse.
Por meio de nota, o time confirmou ter interesse na contratação do goleiro, mas disse que ainda não há nada definido. No entanto, o clube diz que aposta na ressocialização do jogador dando uma segunda chance para ele.
Apesar disso, a professora questiona a justificativa do Operário e a considera frágil. Segundo ela, o sistema penitenciário não trabalhou para que houvesse real mudança de comportamento e conduta de Bruno.
“Nós praticamos um feminismo que é contra o sistema punitivista. Muito provavelmente, sendo um homem negro, ele foi para um sistema penitenciário onde foi punido. Não houve um trabalho de ressocialização e reeducação para rever e ressignificar os valores desse homem, que foi socializado para ser um homem viril, um homem bruto, a ponto de se considerar dono do corpo da companheira, assassiná-la e desfazer o corpo brutalmente”, explicou a militante.
Lélica sugere que, se o Operário realmente tem a intenção promover a ressocialização do jogador, também deve apoiar a igualdade de gênero na sua torcida e mulheres que são vítimas de violência.
“Se o clube não quer ser taxado como machista, que apoia quem comete feminicídio, então que também crie campanhas para promover igualdade de gênero entre as torcidas, que o clube apoie iniciativas de casas de apoio a vítimas de violência, que apoie também as mulheres que são vítimas do patriarcado”, defendeu.
O goleiro Bruno foi condenado a mais de 20 anos de prisão pelo sequestro, assassinato e ocultação do cadáver de Eliza Samudio, sua ex-namorada.
Ele chegou a ficar nove anos preso, mas saiu em julho de 2019 após conseguir na Justiça a progressão de regime para o semiaberto.