Consultora financeira explica sobre a nova liberação de empréstimo para quem é beneficiário do BPC
Emanuel Pinheiro negou muito nos últimos meses, mas sem convicção; ouviu muitos gritos de apoio, os agradeceu, mas pediu tempo; seu partido, o MDB, o paparicou sempre, e seu cacique Carlos Bezerra, também, mas nem assim ele dizia o advérbio sim – sempre saia pela tangente; recentemente 14 partidos se reuniram num num ato de apoiamento a ele, mas sua garganta travou na hora de gritar obrigado e abraçar os apoiadores. Por outro lado, nunca disse não. Ficava sempre sobre o muro, aguardando o desenrolar daquilo. Porém, nesta terça-feira, 19, às 11h15, mesmo medindo e economizando palavras, e cauteloso pra não rasgar o verbo como no fundo gostaria, o prefeito Emanuel cedeu à tentação de falar, deixou de lado a cautela que até então o acompanhou e botou um ponto final na dúvida se será ou não candidato à reeleição. Um sim, em outras palavras, mas com timbre empostado de voz, o fez mergulhar na disputa eleitoral com a única prudência recomendada em casos assim: não ferir a legislação eleitoral com seu calendário engessado.
Pronto! O que era suspense virou declaração sem necessidade de coletiva.
O desenrolar daquilo se refere ao fantasma que ronda Emanuel: o paletó. Conversamos abertamente, em tom cordial. Ele está vestido de noivo ao pé do altar esperando a noiva candidatura chegar, mas prudentemente protelava a aceitação enquanto aguardava a apreciação judical de sua defesa no episódio jocoso do paletó, onde um maço de dinheiro caiu do bolso de seu paletó, após recebê-lo de Sílvio Corrêa, então chefe de gabinete do à época governador Silval Barbosa – quando Emanuel era deputado estadual filiado ao PMDB de Silval.
O vídeo do paletó foi exibido pela TV Globo em 2017. Dois anos depois, sua forte imagem botou o prefeito na retaguarda enquanto busca na lei a inocência que seria o melhor do mundo para ele na esfera política. Emanuel acredita piamente que o episódio será devidamente esclarecido, “juntamos provas, testemunho; estamos tranquilos“, observou.
A CANDIDATURA – A curta entrevista que fiz com Emanuel aconteceu por acaso. Passava ao lado do Hospital Municipal de Cuiabá no bairro Ribeirão do Lipa e o vi sendo entrevistado pelo SBT, na calçada daquela unidade hospitalar. Parei, aguardei o fim de sua conversa com o colega jornalista e o entrevistei ao longo de uns 10 minutos.
Emanuel estava visivelmente emocionado com a entrega do hospital, numa solenidade na véspera, e que contou com a presença do governador democrata Mauro Mendes e de dezenas de prefeitos e vereadores que estavam em Cuiabá participando de um encontro municipalista realizado pela Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM).
O entrevistador em alguns momentos foi ele. Emanuel perguntou como vi a reação dos seus colegas prefeitos sobre a obra do hospital. Quando invertíamos a posição, insistia com ele sobre a candidatura à reeleição. Reticente no começo, aos poucos se abriu, “Hoje eu sou o contraponto ao Mauro (Mendes)“, disse com cara de menino que ganha pirulito. Eu insistia pra que descesse do muro e definisse se seria ou não candidato. Enquanto conversávamos um motoboy se aproximou, pediu licença para uma selfie com o prefeito e não mediu elogios à sua administração. Emanuel o atendeu, ele saiu e ficamos a sós, com sua assessoria afastada alguns metros. “Você viu, a população aplaude minha administração!“, vibrou. Observei; “apesar do caso paletó seu prestígio está em alta, mas chegará um dia que o calendário eleitoral obrigará seu grupo a substitui-lo por alguém disposto a se candidatar”. Ele sorriu, mas guardou silêncio.
Agradeci pela entrevista, mas disse a ele que sua resposta sempre é a mesma, e que o leitor já não se interessa tanto por ela, porque a conhece antecipadamente. Emanuel fez um gesto com a mão, empostou a voz e disse o que poderia dizer, “vou entrar em cena pra valer (ser candidato), vou superar esse caso, provar minha inocência. Brigadeiro, anote ai: estou no páreo. Tudo pela nossa Cuiabá“. Não precisou dizer nada mais. Detalhes sobre coletiva para o anúncio, data do evento político que marcará seu sim, nada disso me interessava. A mídia se encarregará do noticiário, que ganhará as manchetes e será tema de artigos dos formadores de opinião pública.
Minha conversa foi testemunhada: pelo Sol, que é o maior símbolo da nossa abeçoada e ensolarada capital tricentenária, e o Hospital Municipal, que é o marco administrativo de seu mandato. O prefeito pode até não gostar desta informação, que merece ser manchete comum ao sistema de comunicação mato-grossense; poderá até discordar comigo; mas Emanuel nunca olhará para o céu em atitude desafiadora ao Sol, que segundo ele, faz Cuiabá calorosa; nem pra confrontar com sua criatura, pois esse não é o papel do criador.