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Motoristas de aplicativo afirmam que estão sendo desligados da plataforma Uber sem justificativa e relatam “descaso” por parte da empresa em relação aos trabalhadores.
A presidente do sindicato que reúne motoristas de aplicativo, Solange Menacho, conta que chegou a registrar mais de cem casos de trabalhadores bloqueados em apenas um mês.
Segundo a representante, a situação já virou uma constante na rotina de quem trabalha com a Uber e a cada dia mais motoristas estão receosos de que serão os próximos a serem desligados da plataforma.
“A situação está recorrente, vem acontecendo esse desligamento dos aplicativos sem dar nenhuma justificativa. Aproximadamente 150 casos em 30 dias. Todo dia três, quatro motoristas são desligados da plataforma. É triste você ver parceiros que dependem dessa renda serem banidos”, lamentou.
A reportagem conversou com trabalhadores que tiveram suas contas bloqueadas e todos relataram a mesma situação. Em um dia comum de trabalho, com os carros já preparados, foram surpreendidos ao serem impedidos de entrar no aplicativo.
O que suspeitavam ser um problema na plataforma, na verdade era o aviso de que eles tiveram a conta suspensa. Apesar de ficarem chateados com a o afastamento da Uber, a questão que mais causa revolta é a falta de justificativa e respostas por parte da empresa.
Nilson Erick Medeiros de Almeida afirma que foi desligado há um ano e na época chegou a tentar ir até o escritório da empresa, em Cuiabá, mas ao questionar os funcionários descobriu que só poderia ter algum sucesso se entrasse com ação judicial.
E este não foi um caso isolado. Outro motorista, que preferiu não se identificar, relatou à reportagem que também foi orientado a procurar um advogado para saber o que levou ao bloqueio de sua conta.
“Fico mais indignado de você ter que correr atrás de advogado, pagar honorário, apenas para saber o motivo e para recorrer. Eu entrei em contato com eles [Uber], mas não falam”, diz.
“Acho que é uma falta de respeito da Uber, porque eles ganham um rio de dinheiro com a gente, já que cobram 30%. E a gente não tem respaldo nenhum da empresa”, afirma outro motorista bloqueado.
Falta de recurso
Apesar da alternativa ofertada pela empresa, o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos Guerreiros, Flávio Mesquita Munhoz da Silva, que também é motorista de aplicativo, afirma que muitos trabalhadores não têm condição financeira de investir em um processo judicial.
Flávio relata que na maioria dos casos os motoristas tem a Uber como fonte de renda principal. Alguns sustentam família, outros precisam custear parcelas de carros e, no final, não sobra para pagar um advogado.
“O motorista, quando é bloqueado, não tem dinheiro para nada. A ferramenta de trabalho dele é a plataforma e o carro. Então ele paga o aluguel do carro, da casa e ainda tem que comer com aquilo ali”, afirma.
Vendo este problema, a associação começou a coletar recursos para custear advogados para alguns trabalhadores. Flávio afirma que os associados pagam R$ 25 para ajudar a pagar os processos e, dessa forma, tentar reaver as contas dos motoristas bloqueados.
Fico mais indignado de você ter que correr atrás de advogado, pagar honorário, apenas para saber o motivo e para recorrer. Eu entrei em contato com eles [Uber], mas não falam
De junho de 2021 a janeiro deste ano, o presidente afirma que foram recuperadas cerca de 300 perfis desligados da Uber. Flávio cita que em um dos casos o motorista foi banido após o passageiro achar que ele era outra pessoa por ter pintado o cabelo.
“Um motorista com 10 mil viagens… Aí, por causa de um passageiro, bloqueiam o motorista”, diz.
“É preciso entender que aquele motorista é um ser, ele tem família, tem responsabilidades e a pessoa se sente perdida, se sente um nada sem esse trabalho. A realidade é essa”, acrescenta.
Outro lado
Sobre o caso, a Uber afirmou que não é de interesse da empresa bloquear ou banir motoristas da plataforma constantemente. Em nota, a empresa afirma que os motoristas parceiros são seus “clientes” e a perda desses colaboradores poderia acarretar um problema ecônomico.
Por outro lado, a plataforma afirma que segue diversas diretrizes e políticas para manter o bom funcionamento do aplicativo e, caso algum motorista descumpra essas normas, é dever da Uber notificar e, caso necessário, desligar o motorista.
A Uber também negou a afirmação dos trabalhadores a respeito da falta de justificativa para os motoristas afastados da plataforma, alegando que, dependendo dos casos, o proprietário do perfil recebe diversos alertas sobre o comportamento que infringe as diretrizes da empresa. Como, por exemplo, o excesso de cancelamentos.
Leia a nota na íntegra:
A Uber esclarece que os motoristas parceiros são clientes que contratam a tecnologia de intermediação de viagens oferecida pela empresa, por meio do aplicativo, pagando um valor por isso. Dessa forma, os parceiros são fundamentais para que a plataforma opere um sistema de intermediação de viagens dinâmico e flexível, tendo em vista a preservação do equilíbrio entre oferta e demanda. Logo, não é interessante economicamente para a empresa excluir indistintamente motoristas parceiros – pois são seus clientes.
Todas as desativações de contas da Uber estão fundamentadas nas políticas e diretrizes da plataforma, como o Código da Comunidade Uber, que foi criado para que a experiência com o aplicativo seja sempre positiva, segura e respeitosa tanto para motoristas parceiros quanto para usuários. A desativação de contas de motoristas parceiros não acontece com frequência, e existem procedimentos para que seja solicitada revisão caso o parceiro entenda que houve alguma decisão equivocada.
É importante esclarecer que todos os motoristas parceiros passam previamente por uma checagem de apontamentos criminais, para, então, serem autorizados a dirigir utilizando o aplicativo, conforme determina a Lei Federal. Essa verificação é realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos para cadastramento na plataforma, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o País em busca de apontamentos de crimes que possam ter sido cometidos. Após o cadastro inicial, verificações adicionais são realizadas periodicamente para detectar a existência de eventuais novos apontamentos criminais.
Práticas como o cancelamento excessivo de viagens, ou para fins de fraude, configuram mau uso da plataforma, pois atrapalham o seu funcionamento e prejudicam intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas. A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam identificadas, banir as contas envolvidas. Comportamentos como este prejudicam negativamente todos que usam a plataforma porque, de um lado, impedem que outros motoristas parceiros gerem renda atendendo as mesmas solicitações de viagens canceladas, e, por outro, deixam os usuários esperando mais tempo ou até desistindo da solicitação.
Por fim, não é verdadeira a afirmação de que motoristas parceiros não são comunicados dos motivos da desativação. Dependendo da natureza da desativação (como abuso no cancelamento de viagens, por exemplo), o parceiro recebe diversas mensagens alertando para os impactos de práticas que prejudicam toda a comunidade de usuários e motoristas, para que possam ser revistas, antes que sua conta seja desativada. Outros casos que podem levar à desativação imediata (como um incidente de segurança ou verificação de apontamento criminal) são comunicados na mensagem que é enviada ao parceiro na ocasião da desativação, para que possa apresentar pedido de revisão, caso seja de seu interesse.
Fonte: Mídia News