Consultora financeira explica sobre a nova liberação de empréstimo para quem é beneficiário do BPC
Fonte: Gazeta Digital, créditos da imagem: Luiz Leite
Os anos 80 e o início da década de 90 foi um período de hiperinflação na economia brasileira. Diante desse contexto, muitos cuiabanos começaram a se reunir no centro da capital para obter seu sustento do comércio informal. Estima-se que, em 1992, já havia cerca de 400 vendedores no local. Sob a justificativa de organizar a região central, em abril de 1995 os trabalhadores foram realocados, em meio a conflitos e controvérsias, para uma instalação no Dom Aquino, formando o Shopping Popular.
No dia 15 de julho deste ano, entretanto, o local tornou-se ruínas após um incêndio, cujas chamas foram rapidamente alastradas. Em meio a um choque coletivo, 600 comércios foram afetados.
A comerciante Lediane da Silva Oliveira, 42, começou a trabalhar no local aos 16 anos de idade. Ela relembra que por ter hábito de trabalhar aos domingos, esteve presente no dia anterior ao incêndio. Como de costume, ela fez uma faxina em sua banca e também contabilizou o inventário. Quando chegou a casa, todavia, por algum motivo não conseguia adormecer. Em questão de horas, recebeu a notícia da tragédia.
Luiz Leite
“Eu trabalho todos os domingos. Todos os domingos. No dia 14 de junho eu estava aqui. Eu vim, limpei, organizei toda a minha loja. Tudo que eu tinha, eu sei o que tinha lá, porque eu dei uma faxina na loja. Eu não conseguia dormir e não entendia o porquê” comenta.
Quando finalmente pegou no sono, à meia noite, foi acordada de madrugada pela vizinha de Box. “3 e pouco a minha vizinha ligou chorando, nervosa. Falando, ‘Leda está pegando fogo no shopping’”. Em seguida, começou a ver fotos e vídeos do fogo tomando conta. Teve a reação de pedir ao marido para ir ao local “E eu falei, meu Deus, o que eu faço? Eu falei amor, vamos lá pra gente vê. Mas assim, eu não vinha com certeza de salvar alguma coisa, mas de ver realmente, porque a gente só acredita vendo.” acrescenta.
No local, ela comenta que: “Não tinha nem o que fazer. O shopping já estava a metade dele, já pegando fogo, queimando. Os bombeiros já estavam, mas eu acho que não tinha nem o que eles fazerem também, não conseguiam apagar. A proporção do fogo era muito grande. Aí a gente só ficou olhando e muita gente estava dormindo, nem sabia. Aí que eu comecei a ligar para quem eu lembrava, porque você fica assim, transtornado. Você dorme com a sua loja, outro dia, uma rotina normal, você já não tem mais nada, porque foi tudo consumido com fogo. ”
Nos dias em que se seguiram comerciantes começaram a se alocar próximo às ruínas em procura de um recomeço. Lediane também seguiu esses passos. Por ter experiência de anos no shopping popular, a vendedora de óculos compara a volta ao início do camelô. Um lugar amontoado, apertado e quente, com trabalhadores tentando tirar o seu sustento.
“[O Shopping Popular] Ele já tem uma história, de lá da pracinha do centro para vir para cá nesse lugar que foi realocado. Então você acorda de um dia para o outro, dessa trajetória de quase 30 anos que ele tem. E no outro dia você acordar e não tem nada. Aí eu fui no primeiro dia eu fiquei muito triste, chorei bastante. No segundo dia eu já levantei minha cabeça”.
Lediane, atualmente, estuda para se tornar técnica de ótica. Seu sonho é que a loja que vende armação para óculos, no futuro, passe a ser uma ótica. Para isso, ela espera contar com ajuda dos clientes.
“A única coisa em que queria falar é para a sociedade vir, né, é dar essa oportunidade de um recomeço para todo mundo que está aqui”. Ela destaca, em especial, comerciantes mais antigos que não trabalham com redes sociais: “Depende de um cliente físico para poder vender, né, não trabalha online, não faz entrega. Então tem muita gente mais antiga, né, e depende disso aqui.”
Entre um dos vendedores com mais idade está Paulo Dorta de Oliveira, 76, que trabalha com gravação de músicas em pen drives. O idoso começou a trabalhar no Shopping em 2007, na banca de eletrônicos que o filho abriu após ficar desempregado. Com o tempo, o filho mudou a loja para o fora do shopping, mas Paulo permaneceu em um canto da banca alugada. Quinze dias antes do incêndio, contudo, Paulo tinha se mudado para o quiosque, só dele, no segundo piso.
“Eu fiquei chocado na hora porque eu liguei a televisão para assistir um programa normal. Porque eu assistia todos os dias, 6 horas, e já entrou a notícia do incêndio. Eu fiquei arrasado, descontrolado, não sabia o que fazer.”
Nos dias seguintes, ao observar que alguns feirantes tinham retomado os serviços, ele resolveu voltar também. Paulo relata como surgiu a ideia de trabalhar no meio, 17 anos atrás.
“Por acaso, eu estava atendendo o balcão. Passou uma pessoa com o pen drive na mão, reclamando que no shopping ninguém gravava música em pen drive. Aí eu tinha no computador umas músicas do meu consumo, o que eu ouvia. Dai me propus a gravar para ele. Ele olhou, gostou. Eu gravei bastante música pra ele. Aí ele perguntou, ‘quanto que é? ’ Eu falei, não, isso aí é cortesia. Você não precisa pagar nada não”. O cliente, então, enfiou a mão no bolso e retirou 10 reais. “Eu peguei os 10 e falei ‘poxa, se aparecer 5 desses por dia…’, naquele tempo em 2007” acrescenta.
Contrariando a era do streaming, por mais que a tecnologia tenha atrapalhado seu negócio, Paulo comenta que ainda hoje recebe demanda para salvar as músicas no dispositivo. Sertanejo é o ritmo musical mais procurado. Gospel e flashback também são consumidos.
Sobre o recomeço, ele afirma que “A gente tem que batalhar, é o que restou pra nós hoje. É isso. E enfrentar aí, até o fim. Vai dar certo de novo. Nós temos fé.”