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Marlon Campos teria ficado 4 dias agonizando de dor na delegacia de Poxoréu; Polícia abriu investigação
A família do detento Marlon Fernando Pereira Campos, que morreu após dar entrada no Presídio de Mata Grande, em Rondonópolis (a 220 km de Cuiabá), no dia 19 de dezembro, acusa policiais de torturarem e matarem o preso.
Por meio do advogado Carlos Naves, a família pediu a prisão dos delegados Bruno de Moraes, de Poxoréu, e Sidarta Almeida Vidigal, de Jaciara.
Os parentes também pedem pela prisão preventiva do escrivão da Polícia Civil de Poxoréu, Fábio Antônio Coelho da Silva, do subtenente da Polícia Militar Higino, e dos policiais militares Claudionor Joaquim de Souza, Jonatas de Souza e Gustavo Gomes Santiago.
Marlon teria sido preso no dia 15 de dezembro de 2019 por estar com uma moto roubada, após um colega ter delatado seu paradeiro, mas o advogado de defesa nega a versão apresentada no boletim de ocorrência da PM.
No B.O., a informação é de que Paulo Gomes de Lima teria entregado Marlon durante uma abordagem policial. Paulo teria dito que o colega tinha sofrido um acidente e estava recebendo atendimento médico no hospital.
No entanto, em entrevista do advogado com Paulo, o amigo nega a versão do boletim de ocorrência. No áudio que o MidiaNews teve acesso, o preso diz que não sabia onde Marlon estava ou que ele teria se acidentado.
“Nessa ocorrência a gente não estava junto. Eu estava no pesqueiro e ele estava na rua. Eu nem sabia que ele estava no hospital”, afirma Paulo.
“Tem muita contradição aí. Nós fomos lá, pedidos a informação no hospital e não acharam nada de que ele teria dado entrada no hospital”, completa o advogado.
Paulo foi preso por porte ilegal de arma e encaminhado para a delegacia, onde, horas depois, Marlon chegou todo machucado.
“Eu estava preso e ele já chegou machucado na delegacia. Eu não sei se bateram nele porque eu não estava presente, eu já estava preso”, relatou o colega.
Na denúncia, o advogado relata que Marlon ficou quatro dias agonizando de dor no abdômen na delegacia de Poxoréu e a Polícia negou atendimento médico.
“Nós ficamos quatro dias preso e nos quatro dias ele pedia socorro para a Polícia para levar ele no hospital porque ele estava vomitando sangue. Ninguém deu assistência para ele. Inclusive um policial foi lá dentro, abriu o latão e falou que se ele continuasse gritando para levá-llo no hospital, ele iria entrar lá e quebrar a outra costela dele”, contou Paulo.
Em seguida, Marlon passou por audiência de custódia e foi encaminhado para o presídio em Rondonópolis. Conforme o B.O., ele começou a se queixar de dores no abdômen e foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) por volta das 20h.
Ainda segundo o B.O., o detento morreu pouco depois de dar entrada na unidade de saúde, no dia 19. Porém, a UPA emitiu uma nota informando que o preso já chegou sem vida, por volta das 23h.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que a causa da morte foi por conta de uma perfuração no intestino.
No local, ela foi levada para fazer o reconhecimento do corpo do seu filho em um local escuro e só pode ver o rosto de Marlon.
Naves revela que a mulher foi impedida de velar o corpo do filho, que já estava em avançado estado de decomposição e enrolado em um plástico.
“Ela está desolada com tudo o que aconteceu e busca por Justiça para o Marlon”, afirma.
Outro lado
A Polícia Judiciária Civil, por meio de nota, informa que já abriu um Auto de Investigação Preliminar para apurar a morte do detento e a conduta de policiais envolvidos.
A PJC também relata que Marlon foi preso por porte ilegal de arma e que teria sofrido um acidente de moto dias antes da sua prisão. No entanto, a Polícia afirma que prestou socorro ao preso e o encaminhou para uma unidade de saúde, onde ele foi medicado.
A reportagem também entrou em contato com a Polícia Militar, mas não obteve resposta.
Leia a nota da Polícia Civil na íntegra:
“A Polícia Judiciária Civil comunica que a Delegacia Regional de Primavera do Leste abriu um Auto de Investigação Preliminar (AIP) para apurar as condições da morte do preso Marlon Fernando Pereira Campos, assim como a conduta dos policiais que tiveram contato com o detido.
Marlon Fernando Pereira Campos, foi preso pela Polícia Militar de Poxoréu por porte ilegal de arma de fogo, no dia 15 de dezembro, e na ocasião apresentou nome falso. Ele foi conduzido para Delegacia de Polícia, onde foi descoberto o verdadeiro nome (Marlon Fernando Pereira Campos), sendo também descoberto um mandado de prisão em aberto em seu desfavor.
Na ocasião, o conduzido informou que estava com escoriações e dor pelo corpo devido a uma queda de motocicleta ocorrida alguns dias antes (informação relatada no boletim de ocorrência, bem como em juízo na audiência de custódia).
Ao retornar da audiência de custódia em que foi mantida a prisão, o preso ficou detido na Delegacia de Poxoréu aguardando transferência para o Sistema Prisional. Nesse tempo reclamou de dor, e foi levado para a Unidade de Saúde da cidade, onde foi atendido, medicado e posteriormente liberado pela equipe de saúde.
Ele foi levado de volta à delegacia e logo transferido para a Cadeia Pública de Rondonópolis, onde posteriormente ocorreu a sua morte. O inquérito policial relacionado a prisão de Marlon já foi concluído e encaminhado a Ministério Público e Poder Judiciário.”